segunda-feira, 29 de setembro de 2008

01:13, Hora em Barcelona

No quarto, dentro da cama,
as minhas pernas tocam o tecto do peso dos lençois,
vermelhos.
Em frente,
um relógio sem corda dita o tempo.
E, procuro-me...
Encontro-me nos silêncios rasgados pelo negro da tinta,
fiel,
às linhas do meu caderno. Que repousam,
no leito, vermelho,dos meus lençois.
Nos entretantos, a pausa.
O silêncio interrompido por um carro que chega. Que passa o portão.
E eu grito:
Deixa de querer-me.
Era tudo o que eu queria ouvir-te dizer.
Diz-me...
Rasga os silêncios. Os teus.
Acaricia as tuas cordas, com os teus dedos delicados e esguios.
Dedilha o peso dos sons destas palavras graves.
Deixa que o Inverno chegue.
Perene. Com a morte anunciada das tuas palavras.
Que do negro do teu baixo, se dite o fim do teu silêncio.
E, que esta seja a fúnebre melodia,
do início dos meus dias.
Deixa-me acordar,
noutra cidade.
A minha.
Sem querer-te, e, recordar-te,
apenas, como se de um sonho te tratasses.
Acordo.
É já outro dia.
Aguardo...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

entre as 11:00 e as 12:00 de Barcelona




Barcelona começou por ser uma troca ingénua de e-mails entre R.
R a desafiar-me a renunciar ao berço seguro da que fora sempre a minha cidade. Lisboa. O meu porto seguro sobre o Tejo iluminado. Quente.
Decidi ir-me, por cinco dias, com a certeza de uma entrevista na manhã seguinte. E, com a sensação constante de um frio que me gela o corpo de adrenalina e que me faz sentir viva. No pleno control daquela que é a minha existência. Eu e o mundo. Toda uma nova vida. Como se de uma fénix me tratasse, prestes a renascer das cinzas.
Barcelona é agora a cidade em que vivo. E da qual R já nao faz parte.
Barcelona eras tu e o D em cima do monte. Ali, mesmo ao virar do Park Güell. Um lugar suspenso sobre a cidade. Aparentemente serena, em tons quentes de ocre, em que o olhar se perde, tentando reconhecer os lugares. As ruas por onde passo, quando desço a pé, daquela que era a casa habitada por gargalhadas quentes e silêncios de um laranja sereno que fere.
Ficam agora as memórias do que se viveu. E, a certeza de que vos encontrarei, no meu porto. Já sob o Tejo, como se na varanda suspensa nos encontrasse-mos, num qualquer final de tarde. Depois de mais um dia de trabalho.




_polaroid, autoria Xanu_"a vista da minha casa para barcelona"